sexta-feira, 14 de fevereiro de 2020

A Noite (baseado em mais de 10 anos de experiência em ambientes de diversão nocturna)

A noite é reconhecida como um espaço de diversão, de fuga ao quotidiano e de reunião de amigos de longa data. Contudo, partindo destas generalizações maioritariamente aceites por todos, podemos também dizer que se trata de um local onde abunda muita parvoíce. 

Há um tipo de gente que no espaço nocturno entra num transe ao qual eu gosto de chamar «Modo Risco», homenageando o jogo de tabuleiro popular nas décadas de 80 e 90. Esta casta luta arduamente por cada centímetro da pista. Eles é «cuzadas» para trás, cotovelos na nuca de outros noctívagos. Enfim, vale tudo para ser o Napoleão da pista. Habitualmente, estas «guerras» descambam em confusões, mais ou menos violentas, terminadas pela agressividade e determinação de um qualquer segurança da noite chamado Carlão ou Fúria. Mas depois da tempestade vem a bonança, que aqui, leia-se: a Casa de Banho.
Na «casinha», todos somos amigos e bem educados. Neste sítio, conseguimos até manter uma conversa estável num ambiente, já de si próprio, constrangedor. Mas assim que cruzas a porta, voltas a ser o mesmo demónio embrutecido que empurra alguém por um encontrão mal calculado ou um bocado de cerveja no pullover.

No campo dos engates da noite há duas espécimes: O Entertainer e o Misterioso. Passo a explicar. 
O Entertainer é aquele «Party Animal» que dança e sua como se estivesse num videoclip da Shakira. Porém, a sua dança não é mais do que um ritual de acasalamento tribal, servindo para atrair as fêmeas que estejam disponíveis a dar uma chance a este pavão.

Já o Misterioso, penso que podemos dizer que é um clichet da noite. Todos conhecemos aquele tipo de homem que fica perto do balcão, fingindo saborear profundamente a sua bebida de forma elegante, enquanto fisga com o olhar um rol de possíveis vítimas do seu charme. O critério de selecção deste predador silêncioso, mas incansável, prende-se com a quantidade de álcool que as raparigas ou rapazes possam ter a fluir nas suas veias. Ele cheira fragilidades a quilómetros de distância, sejam elas daddy issues ou términos de relações recentes. Ele ignora a boa e velha moral cristã e até os amigos que, em privado, tratam-no por «Abutre».

Para finalizar não podíamos deixar de falar numa das mais comuns figuras da noite. A este arquétipo gosto de chamar «O Guia».
É aquela pessoa que tem a saída toda planificada na sua cabeça, propondo-se a ser o timoneiro da jornada nocturna. Os restantes tendem a aceitar naturalmente a sua liderança, porque não querem comprar uma guerra política. Em boa verdade, 90% da população quando «vai para a noite» quer  somente poisar os corpos cansados num qualquer Snack-Bar e beber «uns canecos». 

Contudo, o Guia quer mais, muito mais. Ele deseja que todas as saídas sejam actos heróicos e memoráveis, como se tratasse de uma verdadeira epopeia clássica. Por tudo isto, ele já desenhou o mapa a percorrer: Cada bar, os tempos bem delineados, as bebidas a consumir, e até arranja estupefacientes se assim vos aprazer. No entanto, confiar nele pode revelar-se uma decisão terrível. Ninguém quer acabar uma noite, chegar a casa, e sentir os músculos das pernas a estremecerem de dor, e tudo causado pela peregrinação boémia dos «melhores spots» do Bernardo. Acreditem, é pior do que ir da Reboleira ao Colombo a pé.

O Começo

Abro este espaço de expressão com um propósito: exprimir aquilo que vejo à minha volta, aproveitando para, num tom intimista, dar a minha perspectiva do mundo que nos rodeia.

Contar viagens, vivências e experiências que fazem parte do meu dia-a-dia. Uma espécie de diário, mas sem entrar em lamechismos e "voyeurismos".
Não me levem a mal, mas prefiro saltar apresentações e irmos directos ao que interessa.
Até já.