sexta-feira, 7 de agosto de 2020

A escória que vai de férias

 Em Portugal, paira um certo ódio gratuito em relação às pessoas que vão de férias. É comum, quando contamos a alguém que vamos de veraneio para algum lugar, escutar aquela expressão inconfundível: «de férias? Ricas Vidas!». De seguida, vem sempre o lamento em tom de auto-elogio: «Já não tiro férias há dois anos». Quando oiço isto apetece-me logo dizer: «Então é melhor ir ao médico» ou «Secalhar, está na hora de tirar uns dias e ir até ao Algarve». Mas não o faço. Não quero enfrentar a fúria, nem beliscar de alguma maneira o ego de quem nunca tira férias, pois com esta malta —que está à beira de um esgotamento nervoso— não se brinca. 

Quem também está de férias é o malandro do Presidente da República e já se fizeram escutar algumas farpas,como aliás era de esperar. Marcelo Rebelo de Sousa foi até à ilha do Porto Santo, segundo o próprio, com o objectivo de promover o turismo daquela zona. Até o Presidente da República tem de arranjar desculpas para poder ir descansar três dias sem ficar mal na fotografia. Contudo, a figura principal da nação já reiterou que caso os incêndios alastrem e ganhem maiores proporções, Marcelo vai logo a correr para Sernacelhe.

 Eu acho que para combater um fogo a escolha mais óbvia será bombeiros, mangueiras e, se o incêndio assim o exigir, aviões. Agora, Professores catedráticos de Direito num cenário de combate às chamas só atrapalham, porque estão sempre a analisar tudo de um ponto de vista jurídico: «Olhe, Comandante Fernandes não pouse a mangueira aí porque essa zona é propriedade privada» ou «Ah e tal, não pode beber uma mini mesmo depois de apagar um fogo, porque isso é inconstitucional». Pois, é verdade, só estorva.   

Se estivesse na posição de Presidente da República, preferia perder eleições, do que trocar três dias na praia idílica do Porto Santo por uma sandes de courato nos Bombeiros Voluntários de Sernacelhe. Citando o nosso saudoso ex-Primeiro Ministro, Pedro Passos Coelho: «Que se lixe as eleições!».