segunda-feira, 30 de março de 2020

Gargalhadas no meio da tempestade pandémica

Há certas coisas que escapam à minha compreensão na cobertura mediática que está a ser dada a esta pandemia do novo Coronavírus. Para começar, as longas ligações em directo das «intrincadas» e «complexas» operações de transferência de dezenas de idosos de um lar para um hospital. Estas operações não têm nada de hollywoodesco, ao contrário do que a longa e maçadora cobertura televisiva parece fazer querer. Afinal, são somente utentes e funcionários de lares a entrarem num autocarro deslocando-se das instituições onde estavam instalados para um outro sítio.  Eu sei que os media procuram acção a rodos e um êxtase dramático marcante, mas tenham paciência rapaziada, ainda não vale tudo, pelo menos por enquanto.

Outro aspecto que merece destaque, são os discursos dos pivôs no encerramentos dos telejornais, que por esta altura transformaram-se num misto de culto evangélico com uma série juvenil da Netflix. É certo que são palavras heróicas e encorajadoras, porém transportam um positivismo algo irritante e excessivo. Sejamos sinceros, até pode ser bonito, mas de jornalismo tem muito pouco.

Um dos fetiches dos jornalistas por estes dias é também o estado de saúde de Jorge Jesus. Bem sei que o técnico português tem apelido de profeta e até lidera uma religião de fanáticos— uma equipa de futebol brasileira—  mas será mais relevante a sua existência do que as 700 mil pessoas que já foram infectadas pelo vírus ou dos milhões que ainda podem vir a ser afectados, mesmo que indirectamente, pela epidemia?

Não podia deixar de referir as belas prateleiras de livros dos comentadores televisivos. Estes ostentam a sua superioridade intelectual exibindo as suas extensas bibliotecas. Neste caso, os livros funcionam em sentido proporcional às medalhas de guerra de um militar: quanto maior for o número de obras, maior é o seu prestígio. Numa sociedade fútil, mais vale parecer do que ser, já diziam os antigos.

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