sexta-feira, 27 de março de 2020

Coronavírus: A União Europeia também está infectada com o vírus do egoísmo.

A União Europeia corre mais riscos do que nunca de desaparecer. A gritante inacção política perante a crise sanitária e económica que a Europa atravessa, coloca Bruxelas presa num nó impossível de desatar.

Sou um leigo nestas matérias. Não conheço por dentro as movimentações dos bastidores políticos, mas como qualquer outro cidadão faço leituras, porque afinal na política «aquilo que parece, é». Neste caso, apercebo-me que há dois grupos dentro desta «União»: os países do sul da Europa, a tentarem reerguer-se da crise de 2008, na qual foram os mais penalizados pelas medidas de austeridade, sendo este «castigo» sustentado pela narrativa assente no pressuposto de termos todos vivido acima das nossas possibilidades— que do meu ponto de vista é manifestamente errado.

 A outra facção é a dos países do centro e norte da Europa, encabeçada pela Alemanha, que não querem sacrificar alguma da riqueza da sua comunidade para reerguer as economias mais frágeis do velho continente. Esta falta de solidariedade sem precedentes na história da Europa, num momento de grande pânico social, dá-nos a clareza de que esta «União» parece só defender os interesses dos países ricos do norte e do centro do continente, servindo exclusivamente para estes circularem livremente os seus bens e recrutarem recursos humanos qualificados a um preço acessível, aos periféricos e pobres países do sul. Na altura de reerguer as economias mais frágeis, onde o impacto da pandemia do novo Coronavírus terá consequências potencialmente catastróficas, os estados mais abastados fogem das suas responsabilidades enquanto membros de uma união política e económica.

Parece-me inequívoco que uma pandemia com esta dimensão necessita de medidas económicas decretadas a nível europeu, exigindo uma reacção concertada por parte de todos os estados-membros. Os líderes europeus não podem pensar que esta pandemia ficará circunscrita a alguns países, pois este vírus não conhece fronteiras.

Caso não apareça uma solução conjunta, tanto a nível económico, como sanitário, e se mantenham atitudes que reflectem um egoísmo brutal, como a do Ministro das Finanças holandês— que pediu uma investigação à Espanha por esta não ter capacidade orçamental para combater a crise provocada pela pandemia— é perceptível que o futuro da União Europeia, tal como a conhecemos, encontra-se altamente comprometido.

Nas sociedades mais afectadas pela Covid-19, pairará a desconfiança para com os restantes parceiros europeus. A falta de solidariedade entre os vários estados sairá sublinhada, reforçando os nacionalismos. É no mínimo bizarro constatar que os mesmos altos líderes da União Europeia, que no seu discurso combatem tão ferozmente o crescimento dos populismos nacionalistas na Europa e no mundo, são os mesmos cuja acção política efectiva alimenta estes movimentos.

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